Page 141 - ANAIS 6ª MOSTRA PARANAENSE DE PESQUISAS E DE RELATOS DE EXPERIÊNCIAS EM SAÚDE
P. 141
EIXO: INTEGRALIDADE DO CUIDADO
RELATO DE EXPERIÊNCIA: A MÚSICA COMO INSTRUMENTO NA HUMANIZAÇÃO DO
CUIDADO DE PACIENTES QUEIMADOS
Autores: JÚLIA MARIA RADIGONDA. Instituição: Universidade Estadual de Londrina
Palavras-chave: Música. Integralidade.
Caracterização do problema: O tratamento de pacientes queimados costuma ser longo e de prognóstico incerto, e envolve
fatores biológicos, psíquicos e socioculturais, que podem gerar diversas reações, como depressão e isolamento social, frente aos
procedimentos hospitalares e à nova realidade na qual se inserem. Assim, mesmo com a evolução de tecnologias hospitalares,
a melhora depende da abordagem integral do paciente, incluindo não apenas a melhora biológica, mas sua interpretação de
vida, valores e rede de apoio. A música pode auxiliar na construção de vínculos com os pacientes, viabilizando a expressão de
sentimentos, contribuindo para a qualidade de vida, o desenvolvimento da comunicação e a geração de apoio para condições
emocionais. Fundamentação teórica: A música atua como facilitadora da criação de vínculos no ambiente de internação, e permite
o cuidado pela intersecção de diferentes áreas da subjetividade, as quais levam à expressão de sentimentos, como prazer, conforto
ou tristeza frente à vulnerabilidade vivenciada no ambiente hospitalar. A disseminação de práticas de humanização é importante
para a ampliação da comunicação e ressignificação de elementos da realidade, essenciais ao processo de melhora. Descrição da
experiência: A intervenção ocorreu no Centro de Tratamento de Queimados do Hospital Universitário de Londrina, por intermédio
da frente da música do Sensibilizar-te, projeto de extensão ligado à Universidade Estadual de Londrina. Foi a primeira participação
do projeto nessa ala do hospital, combinada com os coordenadores, em que diversas músicas foram apresentadas, à escolha
dos pacientes, com um violão e a voz dos alunos. Participaram dessa atividade cerca de 10 pacientes. Efeitos alcançados: A
apresentação das músicas se mostrou efetiva na construção da comunicação com os pacientes, que expressaram gratidão pela
intervenção e compartilharam seus sentimentos, como a dificuldade de ficar por muito tempo sem receber visitas da família.
Assim, foi possível perceber que, ao levar um instrumento lúdico ao ambiente hospitalar, fica mais agradável a construção de
vínculos e a promoção do cuidado em sua integralidade. Recomendações: Depois da experiência, conclui-se que a música pode
ser usada como recurso terapêutico na humanização do ambiente hospitalar, permitindo o cuidado de maneira integral, que vai
além de um procedimento técnico, considerando as subjetividades de cada paciente, o que pode influenciar em seu processo
de reabilitação.
A BONECA ABAYOMI: O USO DE ARTESANATO COMO MEDIADOR PARA DIÁLOGO SOBRE
QUESTÕES ÉTNICO-RACIAIS
Autores: DEBORA LYDINÊS MARTINS CORSINO | Brenda Rafaella da Silva Magalhães, Edilaine Fungari Cavalcante, Kelly Cristiane
Michalichen, Celina Teruko Hokama, Ester Massae Okamoto Dalla Costa. Instituição: Universidade Estadual de Londrina
Palavras-chave: População negra. Artesanato. Arte e cultura.
Na atualidade, observamos que existe um crescente movimento de debates étnico-raciais, discussões acerca da vulnerabilidades
da população negra e racismo, propostos em grande parte por movimentos sociais e coletivos negros. Estes debates, no entanto,
geralmente ocorrem em espaços acadêmicos e políticos, dificultando a aproximação da população em geral, dessas pautas. Nesse
sentido, descreveremos, neste trabalho, uma experiência de produção do cuidado aliado a pauta étnico-racial, realizada em um
dos encontros do Grupo de Convivência, que ocorria no território da UBS Lindóia, em Londrina. O grupo era aberto, com atividades
manuais mediadas por profissionais da Residência Multiprofissional em Saúde da Mulher, da UEL. Pensando em tratar do tema
étnico-racial, propomos em um dos encontros, a confecção da boneca Abayomi. No início da atividade, informamos que iríamos
confeccionar a boneca, e que ao final seria contada sua história e origem. Assim, iniciamos as instruções e materiais necessários;
entre eles, dois retalhos de tecido preto, que representaria o corpo da boneca. Neste momento, algumas mulheres questionaram
se era obrigatório ser dessa cor, e respondemos que deveria ser preta, e que no momento da história, elas entenderiam o motivo.
Ao longo da construção do vestido, do turbante, surgiram alguns comentários sobre a Abayomi, como “parece vodu” e que “falta
só as agulhinhas para espetar nela”. Uma participante chegou a bater na boneca enquanto estava no processo de finalização, e
apenas uma fez um comentário mais sutil: “parece uma baianinha”. Ao término da atividade, foi contada a história: Abayomi, do
dialeto Iorubá, significa “encontro precioso”. A boneca surgiu nos navios negreiros, onde as mulheres, rasgavam as barras de suas
saias e confeccionavam bonecas apenas com nós ou tranças, para as crianças terem algo para brincar. Com a finalização da
história, as mulheres compreenderam porque era necessário representar o corpo com o tecido preto, e afirmaram ser interessante
ouvir este tipo de história. No momento de ir embora, todas pediram que o nome da boneca fosse anotado, para que não se
esquecessem, demonstrando uma mudança do discurso inicial. As mulheres que já tinham netos enfatizaram que iriam contar a
história e ensiná-los a fazer a Abayomi. Conclui-se que a realização da atividade que integrou a arte e a cultura proporcionou uma
reflexão sobre questões étnico-raciais, e a sensibilização para um movimento de cuidado da população negra.
140